O uso de dinheiro vivo está cada vez mais em desuso no Brasil, acompanhando uma tendência global de digitalização das transações financeiras. Com a crescente popularização de carteiras digitais, cartões por aproximação, Pix e aplicativos bancários, o dinheiro vivo vem perdendo espaço até mesmo em transações de pequeno valor. A transformação é visível nas ruas, nos comércios e nas feiras livres, onde os vendedores já utilizam máquinas portáteis de pagamento e, muitas vezes, preferem receber via QR Code. A pergunta que ecoa é: o dinheiro vivo ainda tem espaço em um mundo cada vez mais digital?
O dinheiro vivo, durante décadas, foi sinônimo de autonomia, privacidade e praticidade. No entanto, a ascensão das soluções digitais e o aumento da segurança tecnológica reduziram significativamente os argumentos em favor do papel moeda. Atualmente, a praticidade de realizar pagamentos instantâneos via dispositivos móveis está superando o costume de carregar notas e moedas, tanto entre jovens quanto entre pessoas mais velhas. Isso reflete uma mudança de mentalidade e a consolidação de uma nova cultura financeira.
A digitalização financeira e o declínio do dinheiro vivo também têm relação direta com a formalização da economia. O uso de meios digitais de pagamento aumenta a rastreabilidade das transações, permitindo maior controle por parte do Estado e contribuindo para a redução da evasão fiscal. Além disso, a pandemia acelerou esse processo ao reduzir o contato físico e popularizar ainda mais os pagamentos sem toque. Nesse cenário, o dinheiro vivo vai sendo empurrado, gradualmente, para a periferia da economia.
No entanto, o dinheiro vivo ainda resiste em determinadas regiões e entre certas faixas da população. Em comunidades onde o acesso à internet é precário ou inexistente, ou em locais afastados dos centros urbanos, o dinheiro vivo continua sendo uma necessidade. Além disso, trabalhadores informais e pessoas sem conta bancária ainda dependem dele para sobreviver economicamente. Esse retrato evidencia que, embora o Brasil esteja caminhando para uma economia digital, o dinheiro vivo ainda possui função social relevante.
A discussão sobre o futuro do dinheiro vivo também passa por questões de inclusão digital. Para que o abandono do papel moeda seja possível sem deixar pessoas para trás, é necessário garantir o acesso à tecnologia, à educação financeira e à conectividade em todo o país. As autoridades públicas e o sistema bancário precisam investir em infraestrutura digital e em políticas públicas que ampliem o alcance das soluções financeiras digitais. Caso contrário, o fim do dinheiro vivo pode aprofundar desigualdades.
Empresas e startups de tecnologia financeira vêm desempenhando um papel fundamental nesse processo de transição, oferecendo soluções acessíveis para que cada vez mais pessoas abandonem o dinheiro vivo. Aplicativos de pagamento, contas digitais gratuitas e serviços personalizados facilitam o ingresso de cidadãos no sistema bancário digital. Além disso, o avanço da inteligência artificial e da biometria tornam as transações digitais mais seguras e confiáveis do que o próprio dinheiro vivo.
Mesmo com todos os avanços, o Banco Central mantém sua posição de que o dinheiro vivo não será extinto no curto prazo. A instituição defende a convivência entre o dinheiro vivo e os meios digitais, reconhecendo que há realidades diferentes em um país de dimensões continentais. Porém, a tendência é que o uso do dinheiro vivo continue a cair, especialmente nas grandes cidades e entre as gerações mais jovens, que já nasceram conectadas e pouco veem valor no papel moeda.
O debate sobre o futuro do dinheiro vivo não é apenas econômico, mas também cultural. O que está em jogo é a redefinição da relação das pessoas com o dinheiro. Se antes o dinheiro vivo representava poder de compra imediato, hoje ele dá lugar à praticidade e velocidade das transações digitais. O Brasil, aos poucos, abandona o dinheiro vivo e abraça uma nova era em que a moeda está na nuvem, no smartphone e nos códigos que conectam consumidores e serviços em tempo real.
Autor: Vera Dorth