A sala de reunião estava tensa. Três cenários sobre a mesa, cada um com impacto direto em caixa, equipe e operação. A diretoria comercial queria velocidade. A jurídica, cautela. O RH falava em clima interno. E o financeiro? Todos olharam para ele. E foi ali, sem levantar o tom de voz, sem fazer discurso, que ele fez o que sempre faz: apresentou o que ninguém queria, mas todos precisavam ver.
A gente costuma achar que líderes são sempre carismáticos, eloquentes, cheios de frases de efeito. Mas há um outro tipo de liderança — mais silenciosa, mais firme, mais precisa. É essa que guia empresas nas horas mais críticas. E é com esse perfil que conversamos hoje com Robson Gimenes Pontes, numa entrevista que talvez nem acontecesse se dependesse da vontade dele. Mas aconteceu. E aqui está o que ele compartilhou:
Você se considera um líder?
Acho que liderança não tem a ver com o cargo. Tem a ver com a responsabilidade que você assume pelas consequências das suas análises. Se eu sou ouvido nas decisões difíceis, é porque, ao longo do tempo, construí confiança nos bastidores. Nunca quis palco, mas nunca fugi do peso das decisões.
Por que o setor financeiro costuma ser consultado só no fim da cadeia de decisão?
Porque muita gente ainda associa o financeiro a “falar não”. Mas a verdade é que a gente fala sim o tempo todo — desde que tenha estrutura, lógica e risco sob controle. O financeiro bom não é o que freia — é o que sabe até onde o carro aguenta acelerar.
O que você considera um erro comum entre executivos em momentos de pressão?
Tomar decisões com base em sensação. E confundir urgência com falta de método. Na dúvida, vá aos dados. E se os dados estiverem ruins, o mais importante é ter coragem de dizer: não temos base para decidir agora.
E quanto à ética? Já teve que dizer não quando todo mundo queria o sim?
Muitas vezes. E é aí que você entende o que é liderança de verdade. O papel técnico é também um papel moral. O dia em que você cede por conveniência é o dia em que você perde a autoridade que levou anos para construir.
O que faz um bom líder técnico ser ouvido numa mesa cheia de diretores?
Clareza. Calma. E consistência. A empresa não quer quem grita — quer quem entrega a resposta mais sólida com o menor ruído. Quando o board percebe que você não joga pra torcida, mas joga pelo time, você vira referência.
E o que diria para quem está começando na área e quer ter voz?
Entenda que antes de ter espaço, você precisa ser confiável. Entregar direito. Assumir erro. Ter a humildade de estudar o que não sabe e a firmeza de sustentar o que sabe. E nunca esquecer: os dados são seus aliados, mas é sua postura que constrói ou destrói sua credibilidade.
Autor : Vera Dorth